Com uma rapidez impressionante passaram quatro
dezenas e mais um ano sobre o memorável dia que “libertou” Portugal da tirania ignóbil
do Estado Novo. Muitos dos intervenientes, são já pó, desse mesmo tempo
insatisfeito que nos vai devorando, com aparente indolência, mas voraz
perseverança. Entre os detractores ressabiados e outros “ados” e “istas”, e os
que glorificam a data, foi-se criando uma barreira ideológica, patética, que
tem crescido ao ponto de os patetas da direita mão usarem cravos na lapela e
dos da esquerda alardearem isso como trunfo iniludível da sua superioridade,
uns e outros pobres patéticas figuras que provam o fracasso desse que deveria
ser um dia memorável por variadas razões.
O 25 de Abril, nesta quarenta de anos, parece que ao
invés de unir, mais ajudou a cavar o fosso, aos anteriormente citados lados da
trincheira junte-se uma actualmente gorda fatia, a dos ignorantes, daqueles a
quem aquela data já não diz rigorosamente nada, desconhecem em absoluto os
protagonistas, os eventos, as causas e as consequências, pior não sabem nem
querem saber, produto que são de quarenta anos de uma Educação miserável e que
não cuida das memórias colectivas de um povo, nem se importa em clarificar os
mitos e desfazer os equívocos, mas a História próxima tem dessas coisas.
Juntemos um quarto grupo, composto por diversa
escumalha que não se interessa por coisa nenhuma pois só vive por cá para se
aproveitarem das casas e subsídios à borla, criando depois um Estado seu com
leis próprias e cujo desrespeito pelos outros é ponto de honra. Resulta
portanto desta miscelânea de desapropriação da História, de excessos
libertários e de um miserabilismo intelectual atroz, que hoje, uma grande parte
da população está perfeitamente nas tintas para o 25 de Abril.
Pessoalmente, acredito ter sido um dos dias mais
importantes dos últimos trezentos anos, foi o quebrar das amarras do continuo
ditatorial que vinha desde o tempo de Dom João VI, isto para não ir mais longe,
encerrou-se o ciclo do Império pateta que nunca foi Império, e do que foi, mal
aproveitado sempre. Trouxe-nos essa “revolução” para pelo menos duas décadas de
“europeização” em que quase nos tornamos realmente europeus ocidentais, livres,
com poder de compra, iludidos por um sistema mafioso que nos enredou e
estrangulou, entramos no século XXI de novo agrilhoados, e hoje entrados que
estamos uma quinzena de anos nesse novo século que nos haviam prometido ser de
prosperidade, lentamente estamos a voltar ao antanho, oprimidos por várias
ditaduras, a ditadura das minorias, a ditadura dos FMI e afins e a mais
perniciosa de todas a ditadura de um sistema oligárquico de partidocracia
medíocre e mafiosa, todas juntas estas ditaduras voltaram a atirar-nos para a
doce indolência do Estado Novo, para o miserabilismo e para a miséria, para o
nepotismo e compadrio, para o beneplácito paternalista dos governos de ineptos,
para o desespero e para a fome, pior ainda, que nos tempos do “Zé da Beira”,
porque nesse tempo mesmo mal pago, ia havendo trabalho, ia havendo emprego, não
estou a defender o Estado Novo, apenas constato um facto, podem argumentar que
era trabalho mal pago, quase escravo, de acordo, hoje para além de não existir,
continua igualmente miseravelmente pago e ainda mais escravo. Também a
qualidade dos governantes decresceu a olhos vistos, basta olhar para a
qualidade dos governantes actuais e dos últimos cinco ou seis governos, para se
perceber o miserabilismo e a atroz pobreza franciscana intelectual que domina
este país, elege-se essencialmente o rebotalho, a ralé politica oriunda das
juventudes partidárias, completamente formatados e sem a mínima noção da
realidade do que é viver neste país.
Tenho para mim que o 25 de Abril, foi um bonito
sonho, que se tornou num pesadelo, as situações de extremo dão sempre nisto.
Hoje aquilo que deveria ser uma data de unificação de um país em torno de
ideais de liberdade, de respeito e decência e de honestidade, transformou-se
por mor de uma coisa tipicamente lusitana, num dia de ressentimento de uns
contra outros e pior num dia completamente indiferente para muitos outros.
Ainda assim, Viva o 25 de Abril!
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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